“O
professor de Matemática em geral é um sádico. Ele sente prazer em
complicar tudo” (Malba Tahan).
Muito
difícil dizer hoje qual professor que marcou mais a minha vida, pois
fiz parte de uma geração de grandes profissionais. Porém, ainda
que eu levasse em consideração todo período em sala de aula,
Honório Inácio estaria entre os cabeças da lista.
Discípulo
de Malba Tahan, nome fictício de Júlio César de Melo e Sousa,
matemático e escritor modernista pioneiro no Brasil na transmissão
do ensino diferenciado na Matemática, Honório tornou-se marcante
numa época (final dos anos 70) de autoritarismo militar. Fui seu
aluno quando estudava no Colégio Sete de Setembro (ele também atuou
no Municipal Alvaro Lins, Estadual Nelson Barbalho, Industrial Dom
Miguel e Diocesano). E eu cresci naqueles anos onde cantávamos:
"Esse
é um país que vai pra frente, oh, oh, oh, oh, oh!
De
uma gente amiga e tão contente! Oh, oh, oh, oh, oh ..." (Os
Incríveis).
Vivíamos
cercado de todos aqueles formalismos na classe de aula, e a figura do
professor Honório, com aquele porte físico aparentava muito rigor,
exigência, respeito, admiração e muita atenção em suas aulas,
que nem de longe eram monótonas. Como ele conseguia isso? Com um
equilíbrio raríssimo para época.
Sua
postura didática era ensinar a matemática de uma forma divertida e
diferente, o que nos desafiava aguçando a criatividade e
incentivando descobertas. O quatro era fechado, não era aquela
"cadeira de cabeça para baixo" e o sete não se cortava ao
meio. Honório sentava tanto na cadeira quanto no birô do professor.
Quando nos percebia distraído na aula quebrava um pedaço do giz e
jogava no aluno. Ele conseguia transmitir o conteúdo de forma
atraente e, apesar do bigodão aparentar um cara sisudo, seu largo
sorriso e olhos brilhavam nos diversos momentos descontraídos com a
turma.
Possuidor
da arte de tornar o aprendizado da Matemática algo prazeroso e
descomplicado, Honório foi um revolucionário de sua época e
permaneceu influenciando gerações enquanto educador. Para ele,
assim como Malba, a Matemática é uma senhora que ensina o homem a
ser simples e modesto e a base de todas as ciências e de todas as
artes.
Enfim,
quantos alunos ainda hoje se queixam do excesso de memorização e
dos cálculos repetitivos e não enxergam a utilidade dos conteúdos
aprendidos? Quantos Professores despreparados não sabem o que fazer
para tornar as aulas mais atraentes?
A
tristeza da partida de Honório também nos leva a ser eternamente
agradecidos pelo impacto que nos deixou. Nos desafiando a continuar
fora da escola o que aprendíamos lá dentro, como uma ponte entre
escola e vida.
Paulo
Nailson A. Lima é colaborador
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