O ano de 2018 tem sido
marcado por eventos atípicos. A celebração dos 70 anos de
recriação do Estado de Israel; a guerra da Síria e o avanço da
tecnologia de implantação de chips subcutâneos são alguns dos
fenômenos que parecem compor um cenário profético que podem ser
entendidos como a mudança do período da Grande Comissão de Atos
para a volta do Senhor Jesus Cristo.
No intuito de trazer
esclarecimentos e provocar reflexões sobre este tema tão complexo,
ConTexto conversou com o pastor Halley Freire, o qual é diretor
geral da Escola Bíblica Palavra que Cura em Caruaru-PE, onde também leciona Escatologia e Profecia. Confira:
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O pastor Halley Freire aponta a necessidade de o cristão estudar as Escrituras Sagradas com profundidade. Foto: Divulgação |
Pastor, os recentes
ataques à Síria têm sido interpretados por alguns teólogos como o
cumprimento de profecias bíblicas. O senhor concorda que há alguma
relação entre os textos do Antigo Testamento e os acontecimentos?
Quando se entra no
assunto de Escatologia, é necessário ter muita cautela ao fazer
algumas afirmações. As profecias por vezes apresentam fatos que já
foram cumpridos no passado, mas no próprio texto há um salto para o
tempo do fim.
Existe, realmente, uma
profecia em Isaías 17 que fala sobre a destruição da Síria.
Porém, não podemos afirmar categoricamente que o que está
acontecendo hoje seja o cumprimento deste texto profético, porque na
História vemos que a Síria foi construída e reconstruída por
várias vezes. Portanto, eu não afirmaria categoricamente que o que
acontece na Síria seja um cumprimento profético, mas também não
descartaria, porque há isto na linguagem profética. Quero fazer um
paralelo com um texto profético de Isaías 9, que fala sobre o
nascimento de Jesus Cristo. O versículo fala que “um menino nos
nasceu, um filho se nos deu”, referindo-se ao nascimento de Cristo
em Sua primeira vinda à Terra, mas o mesmo texto fala que “o
governo está sobre os seus ombros”, referindo-se a algo que –
creio eu – acontecerá somente no tempo do fim: o reino físico do
Senhor Jesus na Terra. Este é um padrão em muitos textos
proféticos. No caso do texto referente à Síria, eu diria que ele
apresenta algo que podemos ver hoje, mas não em sua plenitude, pois
existe esta questão que, em termos escatológicos, é chamada de
“salto profético”, ou seja, o mesmo texto fala sobre tempos
distintos. Vejo que atualmente acontece um cumprimento parcial
daquilo que ocorrerá no período da Grande Tribulação, quando a
ira de Deus será derramada na face da Terra. Então, esses ataques à
Síria, na minha opinião, são relances do que ainda irá se
cumprir.
Em 2018,
completam-se 70 anos da fundação do Estado de Israel. Com base no
Salmo 90:10, muitos estudiosos afirmam que este será um ano com
implicações proféticas por causa disso. É possível pensar desta
maneira?
Eu digo que sim, mas
sempre tendo uma cautela. Já ouvi um certo homem de Deus recomendar
que “o que a Bíblia não afirma com clareza, não afirmemos com
certeza”. Então, principalmente quando se entra no aspecto das
profecias, nem todos os textos estão muito claros. Assim, vejo que é
mais saudável fazermos algumas suposições.
É verdade que 70 é um
número significativo na Bíblia. A própria história de Israel
mostra que, no passado, o reino de Judá foi deportado para a
Babilônia e ficou exilado 70 anos por lá. Antes do seu regresso à
terra de Canaã, Deus trata com um profeta judaico chamado Daniel e,
naquela profecia, revela algo que acontecerá ainda no tempo do fim e
divide este cronograma – se posso assim dizer – em 70 semanas de
anos, período comumente conhecido como as 70 semanas de Daniel, que
são 70 períodos de sete anos. É o número 70 relacionado ao povo
judaico. No Novo Testamento, vemos Pedro perguntando a Jesus por
quantas vezes deve perdoar o seu irmão, e o Mestre responde que são
70 vezes sete. Então, o número 70 é significativo na Bíblia.
Eu diria que, diante
disso, é necessário ficarmos atentos. É um fato que Israel se
tornou uma nação em 1948. Não vejo que isso tenha sido algo
meramente por acaso. Também não vejo que seja o cumprimento de
alguns trechos proféticos sobre o retorno de Israel para sua terra,
pois os textos falam de um Israel temente a Cristo, que não é a
realidade hoje. Então, não vejo que 1948 seja o cumprimento de tais
profecias, mas que isto apenas acontecerá em um período específico
da humanidade, que é o período da Grande Tribulação. Entendo que
os judeus vão passar por um período de sofrimento, no qual
novamente eles serão dispersos, mas que ao final deste período eles
serão reagrupados. Então, em 1948 foi cumprida a profecia da
existência de Israel como nação. Assim sendo, pode ser que algo
aconteça nestes 70 anos de cumprimento desta profecia. Ou não. O
que eu digo é: fiquemos atentos, não somente para Israel, mas para
todo o contexto mundial. É preciso ver as notícias, mas
principalmente a Bíblia, pedindo orientação a Deus e aprendendo
com outros irmãos na fé.
Recentemente, voltou
à tona o assunto da implantação de um chip para substituir o
dinheiro, que é normalmente associado à marca da besta. Você
acredita que a marca da besta será um chip ou alguma coisa mais
complexa?
Ao estudar o texto de
Apocalipse 13, observamos que a futura marca da besta estará
relacionada a uma adoração a um governante entendido como “divino”
- como um retorno de um padrão comum nos tempos antigos. A marca da
besta tem a ver com uma adoração à besta, também chamada de
anticristo ou filho da iniquidade. Esta marca também terá relação
com o comércio, pois o texto é claro ao dizer: “Ninguém poderá
comprar nem vender, a não ser quem possuir a marca da besta”.
Então, as pessoas só poderão fazer transações financeiras se
tiverem esta marca. Particularmente, acredito que isto tem a ver com
dinheiro virtual implantado no corpo humano. Atualmente a tecnologia
que se tem para isso são os chips. Se acaso o Senhor Jesus vier em
nossos dias, será esta a tecnologia utilizada. Se não vier, pode
ser que seja outra tecnologia, que ainda será criada.
Então, se você me
perguntar: Hoje, estes chips são a marca da besta? Minha resposta é
“atualmente, não”. Eu creio que o Anticristo só virá a operar
no mundo após o Senhor Jesus buscar os seus. Respeito os irmãos que
pensam diferente e estou aberto ao diálogo, mas creio que o Senhor
Jesus buscará os seus antes do governo do anticristo. Assim sendo,
vejo o chip, atualmente, como uma preparação para o cenário,
condicionando as pessoas para aceitarem a vinda do iníquo.
Você mencionou que
o anticristo se manifestará após o arrebatamento. Alguns teólogos
questionam o entendimento do arrebatamento secreto, argumentando que
este não é um ensinamento histórico, mas criado recentemente, na
segunda metade do século XX. Como você responde a esses
questionamentos?
Veja bem. Sobre a
questão de que o arrebatamento pré-tribulação seja um ensinamento
recente, isso baseia-se no fato de não se ver claramente nos
escritos dos Pais da Igreja menções ao arrebatamento antes da
tribulação. Alguns destes Pais da Igreja falam de um arrebatamento
pós-tribulação. Há um livro muito antigo, o Didaquê, que fala
sobre isso. Pais da Igreja como Justino Mártir e Tertuliano fazem
declarações que mostram que eles não criam desta forma. Porém,
muitos dos Pais da Igreja também fizeram declarações que, hoje,
vemos que são biblicamente infundadas. Então, não vejo que
desacreditar de algo porque os cristãos primitivos não falaram nele
seja um argumento convincente. Eu prefiro analisar os textos
bíblicos. Os registros dos Pais da Igreja começam cerca de 70 anos
depois da morte de Cristo, um tempo em que pode se perder algo dos
ensinamentos. Na Bíblia, porém, vemos que o que mantinha os
primeiros cristãos firmes na fé era a consciência da esperança.
Acho que uma das áreas que mais o Inimigo quis atacar ao longo da
história foi a esperança da igreja, pois iria mexer com o
motivador. Na verdade, no meu entendimento e pelas pesquisas que fiz,
não é que a doutrina do arrebatamento seja recente, mas bíblica. A
visão do arrebatamento pré-tribulação começou a ser estudada em
1830 pelo teólogo John Nelson Darby, tendo sido mais difundida no
período que você falou – a partir dos anos 1960.
Até o presente
momento, não enxergo que esta doutrina foi criada, mas descoberta.
Ela se perdeu ao longo do tempo. Na História da Igreja, vemos que
houve um processo de declínio espiritual a partir do terceiro
século, que gerou uma mescla de crenças, com a introdução de
falsas doutrinas. Isso fez com que a igreja fosse se afastando da
verdade. Na Idade das Trevas, durante mil anos a Igreja ficou fora do
que Deus queria. Com a Reforma de Martinho Lutero, vemos Deus
trazendo os cristãos de volta às Escrituras. No decorrer da
história, percebe-se que Deus levantou outros homens que resgataram
verdades bíblicas. Eles cometeram erros também – o próprio
Lutero fez afirmações equivocadas – mas receberam o despertamento
para algo que foi perdido antes. A base do cristão é a Palavra de
Deus. Entendendo alguns fundamentos doutrinários, tenho enxergado
que haverá um arrebatamento da igreja antes da tribulação.
Contudo, reconheço que há outros pontos de vista, que têm aspectos
positivos nas doutrinas pós-tribulação também, e reconheço que
há pontos negativos no pré-tribulacionismo. É preciso, portanto,
que sejamos abertos a ouvir os vários pontos de vista de forma
tranquila. Independentemente da corrente escatológica que adotemos,
precisamos reconhecer algo: o que moveu os cristãos a despertarem
para estes assuntos foi a doutrina pré-tribulacionista de 1830, que
aponta para a esperança da volta do Senhor Jesus.
O Senhor Jesus diz
que ninguém sabe o dia nem a hora de sua vinda, mas também alerta
que devemos estar atentos aos tempos e às estações. Estes
conselhos, aparentemente, são contraditórios. Qual a diferença?
Quando Jesus fala que
não cabe a nós saber o dia e a hora, Ele está falando sobre
marcação de datas. Nenhum ser humano vai saber precisamente quando
será a volta dEle. Na história, vemos que muitas pessoas marcaram
datas para o retorno do Senhor, sempre frustradas. Porém, isso não
quer dizer que não podemos perceber a brevidade deste dia. Acho
importante a ilustração que o Senhor faz da Sua vinda. Ele a
compara com a de um ladrão. Nós não sabemos quando um ladrão pode
nos assaltar, mas sabemos quando o tempo está propício para haver
assaltos. Dentro desta analogia, não podemos saber o dia exato, mas
perceber pelos sinais a brevidade deste dia.
Que conselhos você
daria aos cristãos, diante de tudo o que está acontecendo? É
motivo para preocupação, estocagem de alimentos, ficar em alerta? O
que é necessário ser feito?
A Palavra do Senhor
fala de um princípio de prudência. Independentemente se o cristão
crê que vai passar pelo período da tribulação ou não, é preciso
reconhecer que estamos em tempos difíceis. Há uma insegurança, no
aspecto natural. Então, todo cuidado é pouco. Ouvi recentemente uma
frase muito interessante de um ministro, que dizia: “Devemos estar
esperando o melhor, mas preparados para o pior”. Vejo que isso é
prudência. Vemos que, independentemente se Jesus vier antes, no meio
ou após a tribulação, o tempo que se aproxima será de
dificuldade. Mesmo sem acreditar que estaremos presentes nos últimos
sete anos da Terra, creio que a geração que presenciará a volta de
Cristo passará por períodos difíceis, então deve estar preparada.
Podemos perceber que há
um trabalho sendo feito, em âmbito mundial, para que as pessoas
odeiem os cristãos, por meio da implementação de conceitos
anticristãos, que quando os cristãos se posicionam geram uma
aversão de outras pessoas. Precisamos tentar agir com cautela, com
prudência. Se você pode estocar alimentos, por que não? Isso é
prudência, independentemente se a igreja será arrebatada antes da
tribulação ou não. A Bíblia diz que os últimos dias serão
tempos difíceis.
Vejo a necessidade de
as pessoas que estudam Escatologia façam diálogos entre si,
apresentem vários pontos de vista. Eu creio que o Espírito Santo
opera na unidade. Creio no pré-tribulacionismo mas tenho contato com
irmãos que pensam diferente e temos um crescimento.Acredito que não
estamos vivendo uma época qualquer. Pelos sinais, percebo que está
próxima a volta do Senhor. Neste sentido, estou prestes a criar um
canal no YouTube chamado 'Falando de Profecias', buscando apresentar
pontos de vista com base em nossos estudos, mas também conhecendo
outras correntes teológicas.
E quem quiser entrar
em contato com a escola, como pode fazer?
Na Escola Bíblica
Palavra que Cura oferecemos um curso bíblico em que há 26 matérias
extraídas da Palavra de Deus e uma delas é Escatologia. Quem tiver
interesse, pode telefonar para o número (81) 3721.9031 ou vir à
Igreja Palavra que Cura, que fica na Avenida Joaquim Nabuco, 217,
Divinópolis, Caruaru-PE. Ou, ainda, quem quiser conversar comigo
pelo WhatsApp, mandar alguma pergunta relacionada ao tema
escatologia, meu número é (81) 9.9105.4238. Terei o maior prazer em
conversar e aprendermos juntos sobre a Palavra de Deus.
Por Jénerson Alves
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