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Raça de gigantes - por Alderi Souza de Matos

Com a morte de Billy Graham, chegou ao fim uma galeria de personagens bastante singulares na história do protestantismo – os pregadores a grandes multidões, os evangelistas de massa. Graças aos seus talentos de oratória e organização, eles foram usados para levar a mensagem do evangelho a milhares e, depois, a milhões de pessoas. Esses pregadores foram indivíduos muitos diferentes entre si em seu nível educacional, filiação eclesiástica e posições teológicas, mas todos tiveram em comum o desejo abrasador de atrair para Cristo o maior número possível de pessoas. Eles também se interessaram por questões sociais, impulsionaram o trabalho missionário e criaram escolas e outras instituições. Seu ministério cobriu boa parte dos séculos 18, 19 e 20, deixando um legado valioso e duradouro.
O primeiro dessa nobre estirpe foi o inglês George Whitefield (1714–1770), um ministro anglicano com profundas convicções calvinistas, influenciado pelos grandes puritanos do século anterior. Sua maior inovação foram as pregações ao ar livre. Obviamente, Jesus e os apóstolos haviam usado esse método, mas ele nunca tinha sido utilizado pelos protestantes, sendo visto com desconfiança na Inglaterra. Whitefield viajou extensamente para pregar o evangelho, utilizando uma linguagem comum para alcançar o coração das pessoas comuns. Seu maior êxito ocorreu nas Treze Colônias, os futuros Estados Unidos, onde se tornou a pessoa mais conhecida do século em que viveu. Foi, ao lado do ilustre pastor Jonathan Edwards, um dos líderes do Primeiro Grande Despertamento, falando diariamente a multidões de até 8 mil pessoas. Conhecido como o “grande itinerante”, seu ministério evangelístico se estendeu por 33 anos, no qual pregou 15 mil sermões dos dois lados do Atlântico.

Outro grande evangelista do século 18 foi John Wesley (1703–1791), também um ministro da Igreja da Inglaterra. Ele era amigo e colega de Whitefield, que o incentivou a realizar o mesmo trabalho itinerante de pregações ao ar livre. Wesley foi influenciado pelos morávios, teve profunda experiência de conversão e se tornou um firme partidário da teologia arminiana. Durante mais de cinquenta anos, viajou cerca de 400 mil quilômetros e pregou 40 mil vezes em toda a extensão das Ilhas Britânicas. Declarou que o mundo todo era a sua paróquia. Foi um dos líderes do Avivamento Evangélico Inglês, ao lado do seu irmão Charles, e o fundador da Igreja Metodista.

Na primeira metade do século 19, outro notável evangelista foi o norte-americano Charles Grandison Finney (1792–1875), nascido um ano após a morte de Wesley. Ordenado como ministro presbiteriano, teve pouca educação teológica formal e abraçou um arminianismo radical. Realizou grandes campanhas evangelísticas, calculando-se em 500 mil o número de pessoas que atenderam aos seus apelos de conversão a Cristo, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Finney dizia que o avivamento não era um milagre, mas resultava do uso de técnicas corretas, as chamadas “novas medidas”. Defendeu o chamado perfeccionismo cristão e o ativismo social, opondo-se à escravidão e defendendo os direitos das mulheres. Seu contemporâneo calvinista Asahel Nettleton também foi um grande evangelista e avivalista.

Na parte posterior do século 19, dois nomes se destacaram extraordinariamente. O primeiro foi o pastor batista inglês Charles Haddon Spurgeon (1834–1892), considerado o “príncipe do púlpito”. À semelhança de Whitefield, ele foi profundamente influenciado pelos puritanos, sendo um ardoroso calvinista. Durante seu ministério de quase quarenta anos em Londres, recebeu mais de 15 mil novos membros no Tabernáculo Metropolitano. Calcula-se que pregou a 10 milhões de pessoas, sendo que em certa ocasião falou a mais de 23 mil ouvintes. Fundou uma escola para a preparação de pregadores – Spurgeon’s College – e diversas instituições sociais, entre as quais um orfanato. Spurgeon foi um ávido leitor e seus livros de sermões constituem o maior conjunto de obras de um único autor na história do cristianismo.

Seu contemporâneo Dwight Lyman Moody (1837–1899) era americano, mas adquiriu notoriedade numa longa série de campanhas evangelísticas no Reino Unido, de 1873 a 1875. Somente na região metropolitana de Londres, falou durante quatro meses a 2,5 milhões de pessoas. Era um pregador leigo, e não um ministro ordenado. Foi influenciado por Spurgeon, a quem ouviu por várias vezes, mas não adotou uma posição teológica específica. Estima-se que em sua carreira tenha viajado mais de 1,5 milhão de quilômetros e falado a mais de 100 milhões de pessoas, inclusive no México, Canadá e França. Em um único dia da Exposição Mundial de Chicago, em 1893, mais de 130 mil pessoas participaram de reuniões evangelísticas coordenadas por Moody. Ele fundou o instituto bíblico e a editora que levam o seu nome.

No início do século 20, destacou-se na América a figura de William Ashley Sunday (1862–1935), mais conhecido como Billy Sunday, um ex-jogador de beisebol convertido aos 24 anos. Suas campanhas muito bem planejadas e sua pregação eletrizante alcançaram 100 milhões de pessoas. Todavia, ninguém imaginava que, dentro de poucas décadas, outro Billy teria êxito ainda mais extraordinário, graças aos avanços nos transportes e comunicações, atingindo maior número de países e de pessoas do que todos os seus antecessores somados. William Franklin Graham Jr. (1918–2018), mundialmente conhecido como Billy Graham, nasceu em uma fazenda na Carolina do Norte. A partir de 1949, pregou de viva voz a cerca de 210 milhões de ouvintes em 185 países. Certa vez, em Seul, na Coreia do Sul, falou a uma multidão de mais de um milhão de pessoas. Sua audiência total, inclusive pelo rádio e pela televisão, superou 2 bilhões de pessoas. Billy Graham se destacou pela sua integridade pessoal e foi conselheiro espiritual de muitos presidentes norte-americanos.

Esses varões de Deus escreveram páginas memoráveis na história do movimento evangélico e cristão. Sua coragem, consagração e coerência deixaram marcas profundas nos seus contemporâneos. Num mundo dominado pela internet e pelas redes sociais, provavelmente não se levantarão outros iguais a eles. Todavia, serão sempre uma inspiração para todos os que se dedicam à mais sublime das tarefas.

• Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e professor no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É autor de Erasmo Braga, o Protestantismo e a Sociedade BrasileiraA Caminhada Cristã na História e Fundamentos da Teologia Histórica. Artigos de sua autoria estão disponíveis em http://cpaj.mackenzie.br/historiadaigreja.php.


Fonte: Ultimato

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