Assunto que por vezes tem sido renegado nas igrejas, nas
escolas e nos lares, as drogas são como um monstro sorrateiro, que entra
sub-repticiamente na vida das crianças, dos adolescentes e dos jovens, e é
capaz de destruir a família inteira, dizimar sonhos, sepultar futuros.
De acordo com um recente estudo da Fiocruz, 34% dos
dependentes químicos afirmam que usaram drogas pela primeira vez por
consequências de amizades e 32% por curiosidade. O que se percebe é que o mero
discurso de “diga ‘não’ às drogas” desacompanhado de esclarecimentos plausíveis
acerca dos malefícios advindos de tal vício não é capaz de afastar os nossos
jovens dos narcóticos.
E os riscos se avolumam ainda mais quando percebemos que o
uso das drogas – e sua possível dependência consequente – poderá conduzir o
indivíduo ao mundo da criminalidade. Dados do balanço do Pacto Pela Vida
divulgados em janeiro deste ano mostram que 70% dos assassinatos em Pernambuco
têm relação com o tráfico de drogas. Não é raro vermos casos de pessoas que têm
a vida ceifada por causa de dívidas com traficantes, por exemplo.
Na condição de agências propagadoras do reino de Deus, as
igrejas cristãs precisam abrir os olhos para esta realidade. É pueril pensar
que o acesso às drogas não faz parte do universo das crianças e adolescentes
que frequentam semanalmente nossas reuniões de louvor e adoração. Um
levantamento da Cristolândia – trabalho desenvolvido pelas igrejas batistas que
oferece acompanhamento para frequentadores das cracolândias – mostra que 80% dos
jovens que atualmente estão nas Cristolândias já passaram por uma comunidade
cristã – seja na condição de membro de igreja ou de visitante, por ter algum
familiar ou amigo pertencente a uma comunidade religiosa.
Cabe às igrejas estarem atentas para alcançar este público. Campanhas
esporádicas ou apresentação de testemunhos de ex-viciados, embora possam ser
importantes, devem ser apenas incrementos de um trabalho mais sólido e
permanente. A igreja precisa identificar os fatores de risco de inserção de
determinado indivíduo no mundo das drogas. Vale lembrar que estes fatores podem
ser sociais (provocados pelo ambiente, pelo fácil acesso a traficantes, ou
casos de dependência na família), mas também emocionais (devido a problemas de
ordem psicológica ou relacional). Além de identificar os fatores de risco, a
igreja deve apresentar fatores de proteção, adotando um caráter de comunidade
terapêutica, baseada no amor de Cristo e na fraternidade, sendo capaz de
abraçar os diferentes e, em amor, partilhar experiências embasadas nos valores
da Bíblia Sagrada, que garantam dignidade plena aos que as vivenciam.
Para tanto, uma das barreiras que a própria igreja precisa
vencer é o preconceito. Acreditar que determinadas pessoas “não têm jeito” é
negar a existência do Deus que opera milagres. Esta barreira pode ser vencida
tão somente com o conhecimento e com a empatia. Em outras palavras, não é
trabalhar “para”, mas trabalhar “com”. É como nos lembra a missionária Bráulia
Ribeiro: “A verdadeira ajuda vincula. A natureza do chamado de Deus é sempre
relacional”.
P.S.: Estes temas foram abordados no Seminário Viver, realizado na
Comunidade Batista da Graça, em Caruaru na tarde do sábado (26.01). Alguns dos tópicos
acima foram apresentados pelo pastor Gildo Freitas, coordenador do Projeto
Cristolândia em Recife. Este artigo foi escrito com a colaboração do
administrador de empresas Estêvão Soares, também colunista de ConTexto.
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Seminário reuniu lideranças de diversas igrejas. Foto: Comunidade Batista da Graça/Divulgação |
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Pastor Gildo Freitas partilhou experiências com os seminaristas. Foto: Comunidade Batista da Graça/Divulgação |
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