Passada a
apresentação desta Coluna na última quinta-feira, pretendia usar este espaço
para escrever algo tão agradável e que me é prazeroso: discorrer sobre
literatura; mas isso implicaria, por hora, ficar alheia às grandes manchetes, a
saber, a mais recente tragédia no Estado de Minas Gerais na cidade de
Brumadinho ocorrida na manhã da última sexta-feira (25), quando uma barragem de
rejeitos de ferro da Vale do Rio Doce rompeu culminando na morte ou
desaparecimento de centenas de pessoas e numa incomensurável destruição
ambiental.
As imagens dos resgates e do desespero das famílias em busca de sobreviventes ou mesmo dos corpos de seus parentes com o intuito de conceder-lhes um sepultamento digno é de provocar-nos arrepios, o ser humano ainda não consegue administrar os sentimentos promovidos em situações como esta.
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Visão aérea da região devastada. Foto: Isac Nóbrega/PR |
As imagens dos resgates e do desespero das famílias em busca de sobreviventes ou mesmo dos corpos de seus parentes com o intuito de conceder-lhes um sepultamento digno é de provocar-nos arrepios, o ser humano ainda não consegue administrar os sentimentos promovidos em situações como esta.
Há pouco mais de
três anos os brasileiros viam a cena da lama avançando sobre Mariana e atônitos
pareciam não crer que aquilo era verdade, o que observavam assemelhava-se a um
cenário de desastre num país distante ou mesmo cenas de algum filme Hollywoodiano, mas
tragicamente era real. Não sabiam, ao mirar os noticiários, que o pior estava
por vir, a moldes 'à la governo petista': sem culpados, sem punição. A Samarco,
mineradora responsável pela barragem em Mariana, pagou unicamente uma parcela
da indenização, segundo o site El País Brasil, o que corresponde a um valor
ínfimo pelos danos provocados; a empresa recorreu e segue na justiça ação,
todavia, sequer possui data prevista para julgamento.
Ademais de toda
dor sofrida pelos brasileiros em especial aos mineiros de Brumadinho,
intrigou-me ler os votos de pesar da ex-presidente impeachmada Dilma Rousseff,
a mesma que assinou o decreto de número 8.672/2015, no qual o rompimento de
barragens tornou-se acidente natural facilitando a inimputabilidade sobre os
mega empresários do minério. Em seus votos exigiu que urgentemente a Vale
repare todas as barragens construídas e ainda tece crítica aos elevados lucros
que as empresas obtêm com a exploração de ferro. Em anos de governo, inclusive
foi durante o governo petista que houve o caso da Samarco em Mariana, nada foi
realizado senão para facilitar a vida dos tais empresários.
Destaque
importante é que o antigo governador Fernando Pimentel também do Partido dos
Trabalhadores, concedeu a ampliação em 70% da exploração de minério pela Vale
realizada na região da atual catástrofe, isso ainda em dezembro de 2018. O
acidente, que deve ser chamado de crime, pois assim o é, ocorreu antes mesmo da
ampliação da exploração de minérios na região.
No Senado,
projeto que visa elencar medidas de segurança para a construção de novas
barragens não conseguiu entrar em pauta na comissão responsável; já na
Assembleia Legislativa Mineira tramita Lei de Segurança de Barragem, por
enquanto também sem aprovação. Quanto ao Palácio do Planalto só agora, após
outro crime catastrófico e uma mudança de governo gerada nas últimas eleições,
que algumas medidas reais são pensadas com a finalidade de evitar que outras
barragens venham a si romper. Além de algumas prisões como as dos engenheiros e
auditores responsáveis pela manutenção da barragem rompida em Brumadinho o
governo já pensa em adotar certos requisitos de segurança para as construções
de novas barragens, ao passo que exige um diagnóstico das já existentes e analisa formas legais de punir os culpados.
Mariana e
Brumadinho choram lamas de rejeitos tóxicos e é impossível medir os impactos
desses crimes. Quanto aos culpados, quem são? Muitos. Desde as empresas até os
órgãos públicos de fiscalização, perpassando o legislativo e executivo que
descumpriram o papel de zelar pela nação, e para esses apenas os lucros
importavam. Vivemos num grande estado que por muitos anos foi governado por
verdadeiros golpistas que discursavam, e ainda o fazem, contra os lucros e 'aszelites', contudo, suas ações ambicionavam
a própria manutenção no poder e o autoenriquecimento.
Apeteço trazer à
memória que foi o Partido dos Trabalhadores que deixou o Brasil na lama, não
apenas na lama das barragens de rejeitos das mineradoras, mas na lama da dívida
pública que ultrapassou as cifras dos trilhões, na lama do caos da violência
pública com mais de 60 mil mortes ao ano, na lama dos baixos índices de
educação, na lama da desprezada saúde pública, na lama dos calotes que países
socialistas deram ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social -
BNDES, na lama dos mais de 13 milhões de desempregados, na lama da crise ética
e moral, na lama da ausência de credibilidade econômica, na lama da corrupção,
do engodo, da canalhice. Quanto ainda colheremos das más safras plantadas pelo
PT?
Vislumbro que não
se pode aplicar a tese dos atos de fala aos líderes do governo petista, dizer
não é fazer (a menos que estejam distantes dos holofotes orquestrando rombos
bilionários aos cofres públicos). Eles vomitam falácias, mas para si soam como
anedotas contadas a uma plateia, e não população, que os assiste com esperança
mesmo enquanto são conduzidos à lama.
Aguardamos
ansiosos por uma mudança de direção, o Brasil não apenas precisa, mas merece
uma nova forma de governo, um governo que tenha alma e imenso zelo pela nação.
Já é possível contemplar uma pequenina luz no fim do túnel, e friso que
começamos bem realizando parceria com o Estado de Israel. Nossas preces é para
que esta seja a última vez que cenas tão impactantes promovidas por tamanha
irresponsabilidade choque os brasileiros, deixando-nos de luto. A última
indagação que faço, com o intuito de incitar uma reflexão é: onde estão os
artistas, os Direitos Humanos, a Organização das Nações Unidas, as feministas,
entre outros, que se aproveitam de determinadas situações, e até criam jargões
e modismos, para conseguirem destaque e defenderem o indefensável? Quiçá
lançados à lama.
Para não
deixarmos de falar em literatura eis um poema que escrevi após uma de minhas
releituras de Ode ao Burguês, de Mário de Andrade, que por hoje essa será minha
indicação de leitura. Que Deus vos abençoe.
Ode ao Politiqueiro
Denunciamos o
Politiqueiro!
O Politiqueiro
corrupto,
O Politiqueiro
infame!
A absorção
perfeita de Brasília.
O homem que se
mantém por trás da gravata e do calarem.
O homem, que
sendo parlamentar ou ministro,
Mantém as nádegas
estufadas!
Denunciamos o
Politiqueiro petralha,
Bolivariano,
comunista e ladrão!
Vivem na
explanada e sugam bilhões,
Capturam o
direito à cultura, saúde e educação!
Denunciamos o
Politiqueiro funesto
O incansável
esquerdopatismo.
A “farta”! A
“farta” de comida
A “farta” de
educação.
Fora os
hipócritas da ética!
Olha a vida
invertida
Repleta de
contradição
Ontem os da
moral, hoje os do caos!
Fenecem os
jovens;
Fenecem os meios
de produção;
Mas não fenece o
mensalão!
O Politiqueiro
Black-tie
O Politiqueiro
limusine
O seu poder
emerge com a imersão do povão.
– Ai, Brasil,
quanto de Ti levaram nesses 500 anos?
Teu povo não tem
herói, é miserável e morre de fome!
Amanda Rocha
é professora. Escreve em ConTexto às quintas-feiras.
Muito bom! Contexto bem dentro da realidade.
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