A imagem do Senhor Jesus Cristo ressuscitado aspergida com
sangue das vítimas dos atentados contra cristãos no Domingo de Páscoa em
igrejas católicas no Sri Lanka é um emblema do nosso tempo. Até o momento, são
mais de 300 mortos e 500 feridos nos atentados contra igrejas e hotéis
ocorridos no último dia 21. O Estado Islâmico reivindicou a autoria destes
atentados.

Se há 2 mil anos ser cristão era perigoso no Império Romano,
parece que o cenário não mudou muito no século XXI. Enquanto a sociedade
ocidental está cada vez mais “ex-cristã”, cresce o número de discriminação
religiosa, sobretudo contra o cristianismo, em várias partes do globo. O XIV
relatório da Fundação pontifícia ‘Ajuda à Igreja que Sofre’, publicado no ano
passado, já apontava que um total de mais de 300 milhões de fiéis sofrem
discriminação e perseguição no mundo. No caso específico do Sri Lanka,
apesar de o artigo X da Constituição de 1978 assegurar a liberdade de
pensamento e religião, inclusive o direito de “adotar a religião de escolha
pessoal”, na prática há muita discriminação contra minorias religiosas.
Convém salientar que a realidade da perseguição contra a fé
cristã é apresentada de forma detalhada no livro ‘Perseguidos: o ataque global
aos cristãos’. Escrita por Paul Marshall, Lela Gilbert e Nina Shea, a obra é um
projeto do Centro para Liberdade Religiosa do Instituto Hudson. No Brasil, o
livro foi traduzido por Emirson Justino e publicado pela Editora Mundo Cristão.
Para além da perseguição sangrenta contra o monoteísmo de
revelação do Cristianismo, é possível perceber no Ocidente um conflito de
símbolos. O cientista político e bispo da Diocese Anglicana do Recife, Dom
Robinson Cavalcanti, já apontava para este cenário em um artigo publicado em
2012 na Revista Ultimato. Em um trecho do texto, ele expunha: “É considerado
normal para um judeu ortodoxo usar um solidéu, para uma islâmica, um véu, para
o sikh, um turbante, porém, o uso da cruz vai sendo banido, tido como ‘ofensivo’
para a sociedade secularista”. Ainda segundo Dom Robinson, este ódio
secularista ao Cristianismo, deve-se ao fato de que “este [o Cristianismo]
afirma conceitos e preceitos morais tidos como preconceitos por uma sociedade
relativista, amoral e hedonista”.
O que a sociedade pós-cristã (ou melhor, anticristã) talvez
há de perceber tardiamente é que a cruz, o cordeiro e demais símbolos cristãos
são representações não apenas de uma manifestação religiosa, mas do alicerce da
cultura do Ocidente. Inclusive, toda a compreensão e a valorização da liberdade
atual é fruto de uma criação com essência cristã. Apenas para citar alguns
exemplos, destaca-se que o amor ao próximo é a máxima exposta pelo Senhor
Jesus. O conceito de livre arbítrio foi amplamente debatido por Santo Agostinho
no século IV na obra ‘De Libero Arbitrio’. Já a ideia da dignidade humana foi
trazida à tona através dos estudos do renascentista italiano Giovanni Pico
della Mirandola. Por sua vez, o conceito de tolerância do filósofo inglês John
Locke, escrito no século XVII, mantém-se atual.
É necessário que a herança cultural da fé cristã ocupe
espaço no debate público, a despeito das represálias secularistas. A influência
histórica e cultural do Cristianismo não pode ser reduzida aos espaços
individuais, sob o risco de o Ocidente, em um futuro não distante, ser vítima
da própria letargia.
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