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Sem Aspas | Oi doutor, fedeu? - por Amanda Rocha

    - Ah! Ele é tão lindo - exclamou a tia.
    - Que menino tão fofo - Disse uma amiga.
    - Será um forte guerreiro - expressou a avó.
    - Cuidará das empresas do vovô - Impôs o avó.
    - Nada disso - verbalizou o pai - será doutor, poliglota, exímio praticante de artes marciais.
A mãe interrompendo toda discussão e falou:
    - Parem todos com isso! É só um bebê e vocês já estão impondo ao menino um destino, uma história pré-moldada,  sem escolhas. Ele é meu pacotinho, e por hora isso basta.
    - Bem, está na hora de irmos e deixarmos vocês descansarem e curtirem o bebê - a avó completou.
    - Este quarto é lindo! Parabéns Suelem pela escolha da decoração, esse tom de azul caiu muito bem ao ambiente - expôs a amiga reiniciando a conversa, agora sobre outra temática.
    - E essa lembrancinha, que mimo um pequeno lutador de taekwondo - prosseguiu a tia.



    Aquele era o primeiro dia em casa após a saída da maternidade. Tudo era novo para aquele jovem casal e seu primeiro filho. O recém-nascido batizara o quarto desde sua primeira troca de fraldas, parecia que propositadamente mirara a camisa especial que seu pai produzira exclusivamente para aquele momento. A criança, desde que nos braços de sua mãe, era bastante calma; criam que o odor do leite materno e o som dos batimentos cardíacos servia-lhe como calmante, recostava-o ao peito e tudo se fazia sereno. Mas para além das intensas conversas sobre a decoração, as trocas de fraldas e planos para o pequeno homem que compunha a família como primeiro bisneto, neto e filho iniciou um profundo desalento do bebê.

    - A culpa é de vocês mulheres que não cessam todo esse falatório sobre cores, roupas e presentes - indignado e sobrepondo a voz aos demais disse o avô.
    - Vocês que não pararam de tratar de arranjar o futuro do pequeno anjo, até casamento já lhe providenciaram, o garoto há de ter ficado arretado - retrucou a avó.
    - Meu Deus! Que faço mainha? com olhar desesperado questionou-se a mãe.
    - Vamos tentar investigar - interpôs-se a tia.
    - Já o amamentou? falou o pai dirigindo-se a sua esposa.
    - Claro que sim - respondeu.
    - A fralda está limpa?
    - Acabamos de substituí-la - Em desespero dizia o pai.
    - Ele já fez o cocô hoje? Alguém perguntou.
    - Não! - arregalando os olhos informou a mãe.

    Todos chegaram à conclusão que o problema era intestinal. Constipação intestinal, concluiu o pseudomédico da família, o tio que até o momento encontrava-se no canto da sala jogando vídeo game.

    - Que devo fazer? a mãe insistia.
    - Vamos levá-lo ao médico, simples - dizia o pai.

    De pronto organizaram a mala, que não havia sido desfeita, dentro do porta malas e seguiram os pais e o bebê para o pronto socorro. Optaram por levá-lo ao hospital mais completo que conheciam, possuía equipamentos e uma exímia equipe técnica, não queriam correr o risco de terem de fazer alguma transferência caso fosse necessário. Adentraram o portão do hospital com semblante tenso como numa corrida implacável em busca de socorro, o choro do bebê completava a tensão como uma trilha sonora desesperadora.

    - Por favor, senhora - dizia o pai se dirigindo a enfermeira - peço que priorize o meu filho, acabamos de sair com ele da maternidade, possui apenas 3 dias de nascido.
    - Calma pai, tudo ficará bem, comunicarei ao Doutor a situação e o atenderemos o mais breve possível.

    Enquanto os pais buscavam socorro para o bebê, em casa, toda a família intercedia pela criança com orações e criam que tudo ficaria bem e aguardavam ansiosos o retorno daquele casal e do pequenino. No hospital, a mãe em desespero não sabia mais o que fazer para reduzir o ensurdecedor choro de seu filho. Nem mesmo o acalento do leite materno era aceito pela criança.  O pai preenchera o cadastro e logo foram chamados pelo pediatra de plantão.

    - Olá jovens, que há com o pequenino?
    - Ele está nesse choro há horas, seria alguma constipação intestinal?
    - Que nada, isso é apenas especulação de meu cunhado metido a sabichão, doutor - contestou o pai.
    - Mas é que desde cedo ele ainda não fez o número dois, o senhor me entende não é, doutor?
    - Sim, sim. Ponha a criança nessa cama e levantem sua roupa, vamos analisar sua barriguinha.
    - Doutor, por que ele tá ficando assim tão vermelho? Sou mãe de primeira viagem, não entendo nada de bebês ainda, achei que os manuais que li durante a gestação me ajudariam, mas vejo que não.
    - E esses sons? Que é isso doutor, o que está fazendo? - indagou o pai.
    - Massagem abdominal - respondia o médico.

    Os barulhos feitos pelo bebê constrangeram os inexperientes pais.

    - Acho que precisará trocar as fraudas. - disse o médico enquanto abria a frauda do bebê e se certificava que ele concluíra o número dois.

    Ainda na sala os pais cobriam o nariz tentando reduzir o odor ambiente que penetrava as narinas.

    - Podem trocá-lo aqui mesmo, sem problemas.
    - Obrigado, doutor. Bem, é um caso de constipação intestinal, correto?
    - Sim, sim. Acenou o médico.

    O casal se entreolhou e ele pediu para que ela não comentasse nada.

    - Vamos para casa.
    -Está bem - disse ela enquanto sacava o celular e telefonava para a mãe para contar-lhe que o bebê estava bem e que já retornavam para casa.
    - Mas o que houve? Indagou a avó.
    - Constipação intestinal, tá bem? Pode contar a seu filho - interpôs-se o pai respondendo-lhe um pouco ríspido.
    - É! fedeu - pensou a mãe.




Amanda Rocha é professora e cronista.

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