Dia desses, pela madrugada, o
sono me faltou e fui até a janela respirar ar e distrair a mente, que por estar
perturbada me deixava desperto. Foi aí que vi um rapaz caminhando, mesmo pela
minha calçada e pensei: que falta de juízo, caminhar despreocupado uma hora
dessas.
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Imagem do Blog Ideias Flutuantes
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Eis que uma mulher vinha do
lado oposto, toda enfeitada parecendo, como se diz hoje, uma piriguete. Parecia
inquieta e pensei ser uma dessas desventuradas consumindo drogas, mas não, se aproximou
do rapaz e o beijou sutilmente, indiscretamente recuei mais da janela e com rosto
de impudica a ouvi dizer: estou doando meu corpo em troca de prazeres; hoje paguei
todos os meus votos. Daí voltei a ponderar: ela tá usando termos religiosos
para convencer o pobre rapaz, como que se ele fosse com ela pra cama não seria
errado, pois ela teria pago todos os erros!
E ela continuou convencendo-o
e disse que a cama estava bem forrada com lençóis limpos e cheirosos e que se
ele quisesse poderiam até amanhecer o dia se alegrando em amores. Foi aí que
ele balbuciou algo e pela resposta dela acho que perguntou se ela era casada,
pois ela respondeu: meu marido não está em casa, viajou pra longe, levou até o cartão
de crédito, por isso vai demorar dias pra voltar.
E ele se foi com ela,
cabisbaixo tal qual boi vai para o cercado, tal qual insensato vai pra sentenças
de penalidades...
Foi quando dei por mim e
estava lendo Provérbios 7:6-27.
E fui dormir.
Nelson
Lima é teatrólogo, escritor e poeta.
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