Quatro argumentos breves contra o abandono dos estudos clássicos no Brasil e, em particular, nas faculdades ditas de Letras – por Sergio Pachá
Primeiro: A civilização do Ocidente é a continuação da
civilização greco-latina informada pela ética judaico-cristã. Ora, em grego e
em latim escreveram-se obras de tal perfeição, que se foram da lei da morte
libertando, como diria Camões. Logo, a nenhum homem que se queira civilizado e
preze o honesto estudo será lícito ignorá-las.
Segundo: A tradução do grego e do latim, línguas altamente
flexionais, é um dos mais belos tirocínios de precisão e rigor. Assim, com
ilustrar a inteligência, serve também de coadjuvante na formação do caráter.
Terceiro: A língua portuguesa é uma das formas assumidas
pelo latim vulgar no volver dos séculos. O mesmo vale para as demais línguas
românicas. Quanto ao inglês, embora pertença à família germânica, possui
vastíssimo contingente de vocábulos de origem latina, nele introduzidos desde
seus primórdios anglo-saxões e, muito principalmente, a partir da conquista franco-normanda ou por empréstimo erudito. Já
o grego forneceu e fornece a todas as línguas de cultura elementos inesgotáveis
para a formação de neologismos em todas as áreas do conhecimento, da astronomia
à zoologia. Pretender, pois, conhecer (e ensinar!) uma língua neolatina , ou
mesmo inglês, sem conhecer bem o latim e ter ao menos rudimentos de grego, é um
claro contra-senso.
Quarto: As literaturas européias, sobretudo a partir do
Renascimento, retomam, glosam e imitam os gêneros literários e a riquíssima
temática da Antigüidade Clássica. Um professor de português, de francês, de
inglês, etc., que não tenha lido, e bem, Virgílio, Horácio, Sêneca (para só
ficarmos com os latinos, que, por sua vez, foram no encalço dos gregos), jamais
poderá abrir a boca e dizer coisa com coisa a respeito de Camões, de Ronsard,
de Shakespeare. Será melhor que vá plantar batatas na Beócia ou que se entregue
à crítica estruturalista – o que, em termos de cultura, vem a ser rigorosamente
a mesma coisa.
Sergio
Pachá, ex-lexicógrafo da Academia Brasileira de Letras
Fonte: Facebook do Sergio Pachá
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