Integridade é o princípio ético para não apequenar a vida, que já é curta
Benjamin Disraeli, grande primeiro ministro do Reino Unido durante o reinado da Rainha Vitória, proferiu uma frase que gosto muito: “A vida é muito curta para ser pequena”.
Integridade é o princípio ético para não apequenar a vida, que já é curta. Integridade é a capacidade de saber que “eu morro louco, mas ninguém arranca a minha inteireza”. Integridade é honestidade, é sinceridade. Há pessoas que falam: “Mas isso no nosso país? Só um otário é honesto, íntegro e sincero”. Essa é uma escolha.
Você obtém um pouco de sossego mental quando aquilo que você quer é também o que você deve e é aquilo que você pode. Quanto mais claros os princípios, mais fácil fica lidar com os dilemas. Você não deixa de ter dilemas, mas é preciso ter como razão central a integridade. O que é uma pessoa íntegra? É uma pessoa correta, justa, honesta, que não se desvia do caminho. É uma pessoa que não tem duas caras. Qual a grande virtude que uma pessoa íntegra tem? Ela é sincera.
De onde vem a palavra sinceridade? Ela tem várias acepções, porém a mais recente tem a ver com marcenaria. No século XIX, quando o marceneiro, ao trabalhar com aqueles móveis chamados coloniais, errava com o formão, ele pegava a cera de abelha e passava naquele lugar para disfarçar o erro. Sine cera significa “sem cera”, uma pessoa sincera é aquela que não disfarça o erro, ela assume. Em vez de fazer de novo, ele finge que está certo passando cera de abelha. É igual a certas pessoas que, quando vão mudar de casa, pegam pasta de dente e colocam em todos os furos de quadro para fazer uma maquiagem.
Ética não é cosmética. Ética é sinceridade. Sabe de onde vem a expressão original “sincera”? No latim sine cera, sem cera, vem da criação de abelhas. Qual é o mel puro, o da geleia real? É o mel sem cera. A noção pureza está aí.
Mas ela vem do teatro também. O mundo romano herdou parte dos princípios do teatro grego. No teatro grego, da Antiguidade Clássica, de 2.500 anos atrás, havia uma situação muito interessante: todas as vezes que uma peça seria representada, os atores eram sempre homens, não havia espaço para mulheres. Para que um ator pudesse fazer vários papéis, inclusive os femininos, eles construíam uma máscara feita de argila que seguravam na frente do rosto com uma varetinha. Que nome os latinos deram a essa máscara dos gregos? Persona. Daí vieram “personagem” ou “personalidade”.
Aliás, tem gente que usa várias dessas máscaras. Deixa em casa uma, sai com outra. Se comporta no trabalho de um jeito e, em casa de outro. Ele não admite, em casa , que a empregada doméstica se atrase um minuto, mas pouco se incomoda se ele mesmo atrasar. Ele acha que na empresa tem de ter mais participação das pessoas, quer participar das decisões de um determinado patamar da hierarquia para cima, mas não acha que deva haver dali para baixo.
Uma das coisas que eu mais temo quando se tem um debate ético é a chamada adesão cínica. É quando o sujeito diz: “Nós temos que discutir ética, esse país só vai para frente com ética”. Mas, ele mesmo, no dia a dia, comporta-se da seguinte maneira: “Isso é bobagem. O mundo é competitivo, a regra é básica é cada um por sie Deus por todos. Cada um tem de se virar, senão a gente dança”. Esse tipo de adesão cínica é muito perigoso.
Para finalizar, eu prefiro o mentiroso ao cínico. Porque o mentiroso é alguém que você captura a mentira dele, mas o cínico finge o tempo todo. E esse é o tipo mais deletério, porque dá a impressão de que está aderindo e, como não está, enfraquece a corrente daqueles e daquelas que acham que a vida é muito curta para ser pequena.
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