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Opinião Criativa | Os outros de nós mesmos – por Mário Disnard

 Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho



A ética é, antes de mais nada de protegermos a dignidade da vida coletiva. Afinal de contas, nós, homens e mulheres, vivemos juntos. Aliás, para seres humanos, não existe vivência, existe apenas convivência. Nós só somos humanos com outros humanos. A nossa humanidade é compartilhada. Ser humano é ser junto. Isso significa que é preciso que saibamos que a nossa convivência exige uma noção especial da nossa igualdade de existência, o que os obriga a afastar do ponto de partida qualquer forma arrogância.

Gente arrogante é gente que se acha que já sabe, repitamos. Gente arrogante é gente que acha que já conhece. Gente arrogante é gente que acha que ela é o único tipo de ser humano válido que existe. Gente arrogante se relaciona com o outro por conta do dinheiro que carrega, por conta do nível de escolaridade, por conta do sotaque que usa como se o outro não fosse outro.

Gente arrogante é i8ncapaz de prestar atenção. Você está dialogando com o arrogante, ele não presta atenção no que você está falando. Ele fica pensando enquanto você fala. Ele não quer nem saber o que você está falando. Ele só está esperando você parar para ele continuar falando. O arrogante esquece uma frase do grande teólogo catarinense Leonardo Boff, que diz que “um ponto de vista é a vista a partir de um ponto”. A é tica,, entre outras coisas, nos obriga a perceber essa multiplicidade de pontos de vistas. O arrogante acha que só tem um ponto de vista que vale: o dele.

O arrogante é incapaz de ter uma das coisas importantes e que será a razão central da ética: a visão de alteridade. É a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho. Os latinos tinham uma expressão para “eu” que era ego. E usavam duas para falar de não eu: uma é alter, que significa “o outro”, mas usavam também alius, para indicar o “estranho”. Palavras em português que vêm de alius: “alienado”, “alheio”, “alien”.

Visão de alteridade é a capacidade de ver o outro como outro, e não como estranho. Há pessoas que só conseguem olhar o outro como estranho, e não como outro. Aliás, quem são os outros de nós mesmos? A arrogância é uma coisa absolutamente complicada para isso, porque ela acaba marcando alguém pela incapacidade de ter visão de alteridade.

Um ponto de vista é uma vista a partir de um p9onto. Só é possível falar numa ética que promova a vida digna coletiva se eu for capaz de olhar o outro como outro, e não como estranho. Aliás, é necessário afastar qualquer forma de arrogância, porque coloca essa condição negativa: supor que só exista um jeito de ser. E a fratura ética se origina, em grande parte, da arrogância e da ganância.

Não confunda ambição com ganância. A ambição faz a humanidade crescer, a ganância faz a humanidade regredir.

Para finalizar ambiciosa é a pessoa que quer mais, gananciosa é a pessoa que só quer para si. A humanidade cresce porque as pessoas são ambiciosas, querem mais trabalho, mais lucratividade, mais conhecimento. A ganância, junto com a arrogância, são mecanismos de apodrecimento ético. Nós, humanos, somos um animal arrogante. Tão arrogantes que somos proprietários do planeta. Não somos. Somos usuários compartilhantes.



Mário Disnard é professor, com graduação em História e Gestão em Recursos Humanos. Possui pós-graduação em Gestão do Capital Intelectual e Coordenação Pedagógica. Foi Articulador da EJA da Prefeitura Municipal de Caruaru. Tem experiência na área de Administração. Foi coordenador do Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos biênio 2014/2016, Foi vice-presidente dos Conselhos Municipais de Assistência Social e Direitos da Criança e do Adolescente de Caruaru. Participou da Construção do Plano Municipal de Educação de Caruaru. Pesquisador em EJA com publicações Nacionais e Internacionais. Em 2020 lançará o livro com a mesma temática do trabalho apresentado em Portugal pela editora Appris.

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