No debate filosófico sobre a naturalidade da violência está instaurado desde os primórdios da modernidade, de forma paradigmática, sentenciou que o estado de natureza humano é um estado de guerra de todos contra todos. O liberalismo econômico reagiu parcialmente as propostas absolutistas, mas não questionou em absoluto o pressuposto filosófico de que o estado de natureza humano é necessariamente violento. Pensou o Estado e o mercado como instituições que regulariam produtivamente a lógica da violência inerente à natureza humana e à sociedade.
Com tal objetivo instituíra-se o monopólio da violência no Estado e se deixou que no mercado vigorasse a lei natural da concorrência de todos contra todos. Esta seria o resíduo da violência natural que regula racionalmente asa relações sociais embora beneficiando aos mais fortes, como corresponde à suposta lei da seleção natural.
Em primeiro lugar temos de se fazer uma distinção conceitual importante entre agressividade e violência. Ambos termos se utilizam indistintamente, o que leva, na maioria dos casos, a confundi-los como dimensões equivalentes do comportamento humano e até animal. Não se pode identificar violência com agressividade porque entre ambas há uma diferença qualitativa pela qual a agressividade, sob suas diversas formas, pode ser considerada natural enquanto a violência é definida pela sua intencionalidade estratégica.
A consideração da violência como uma pulsão natural do comportamento humano, e consequentemente das relações sociais leva a conclusões fatalistas sobre sua presença inevitável na sociedade e no poder. Este debate clássico abrange estudos em todas as áreas do saber, mas que tem seu ponto de partida na antropologia filosófica.
A intencionalidade significativa traduz o ato violento na lógica dos meios e fins. Nossa lógica a violência opera sempre como meio para um fim intencionalmente previsto. Na lógica dos fins, a violência é um meio instrumental, ou seja, a violência é o meio estratégico para um fim almejado.
Para finalizar, a intencionalidade despoja a agressividade da inconsciência natural para elaborar hermeneuticamente a violência como um meio estratégico para um fim. Essa é a característica da lógica instrumental que requer, em maior ou menor grau, uma intencionalidade prévia, ou seja, uma premeditação de meios e fins em que a violência deixa de ser uma mera pulsão natural agressiva para se transformar numa decisão deliberativa. A racionalidade instrumental produz a violência como ato deliberado, a diferença da pulsão agressiva que existe como instinto sem intencionalidade prévia. A distinção feita entre violência e agressividade possibilita aceitar a tese de que há uma certa pulsão agressiva natural inerente ao instinto da vida, porém ela não se idêntica com a violência uma vez que toda violência é produzida intencionalmente no contexto de uma sociedade.
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