Opinião Construtiva | A alteridade das culturas infantis que se revela pelo corpo – por Mário Disnard
O corpo, na atualidade, tem sido alvo de estudo e preocupação de diversas áreas, tanto das Ciências Biológicas. Como das Ciências Humanas e Sociais. O crescimento dos estudos sobre o corpo, principalmente nas Ciências Sociais (Sociologia, Filosofia, Antropologia, História, Pedagogia, etc) tem se dado à medida que o corpo vem ganhando grande centralidade como objeto de preocupação da sociedade atual, uma vez que estão emergindo novos modos de conceder e tr4avar as relações com ele. As diversas abordagens que o cercam têm se ancorado na compreensão do novo corpo social.
Dentre as abordagens sobre o corpo, uma das que considero profícuas para pensar a relação entre corpo e infância é apontada por Prout. Esse autor, bastante atento aos dualismos pelos quais se construiu a sociologia moderna, chama a atenção para a necessidade de considerarmos a materialidade do corpo, ou seja, sua dimensão natural, como dado importante e que está intimamente articulado à dimensão cultural. Atenta ao alerta desse autor e, ainda minha preocupação esteja centrada nos processos sociológicos de produção de culturas infantis e, nelas, da relação das crianças com seus corpos, buscarei tornar o corpo na dimensão tanto na sua dimensão natural e ou biológica como cultural, uma vez que ambas as dimensões se determinam e se produzem mutuamente.
Essas noções se articulam a outro conceito fundamental a ser explicitado, que também conduz meu olhar e entendimento acerca do corpo e suas relações com os processos de humanização do sujeito. Refiro-me ao conceito filosófico de corporeidade, pelo qual se busca traduzir a integralidade entre sujeito, consciência e corpo. A corporeidade, assim, é o testemunho da existência do sujeito, uma vez que não só se tem um corpo, como se vive e sente como sujeito humano porque somos corpo.
Paradoxalmente,, meu olhar estava limitado a perceber as crianças como vítimas da opressão e da cultura escolar, o corpo infantil e sua insistente expressividade me instigavam ao reconhecimento de que, por ele, se revelavam formas de produção de linguagens, de interação, de brincadeira e de ação das crianças que revelavam um jeito muito próprio de viver o corpo e expressar uma outra cultura, distinta da cultura adulta e da cultura escolar que se sobrepunha na regulação dos comportamentos infantis.
A presença geracional entendida, principalmente pela expressão de alteridade infantil do corpo e da corporeidade das crianças com relação aos adultos, pode ser identificada tanto numa dimensão biológica, ou seja, as crianças se distinguem dos adultos por terem um corpo diferente destes, menor tamanho, menor força, maior vulnerabilidade, maior energia, capacidade motora e expressiva, como cultural pela forma diferente que vivem o corpo e constroem significados(sobre e com o corpo) e os partilham no interior de seus grupos de pares.
Para finalizar, contudo, adentrando em seus mundos sociais e buscando refinar meu olhar para compreender os sinais da alteridade tanto em relação aos adultos quanto em relação a elas próprias (olhando, portanto, tanto as diferenças geracionais como as produzidas pela classe social) foi ficando evidente que o o corpo e a corporeidade no interior do grupo da favela, se destacava com principal mecanismo que produz e expressa a cultura infantil naquele grupo.
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