Do corpo produtivo ao corpo brincante, defende ao se embrenhar no cotidiano das crianças trabalhadoras nos canaviais pernambucanos para buscar perceber se existiria possibilidade para aquelas crianças usurpadas ao direito à infância porque inseridas em longas duras jornadas de trabalho no corte de caba viverem o lúdico.
Assim, fazendo uma dura crítica à sociedade capitalista e ao que ela produz como mazelas à classe trabalhadora, revela que o corpo produtivo é o corpo alienado, objetivado e apropriado pelo capital com vista à sua perpetuação. Nesse sentido, alega que o corpo produtivo das crianças materializa sua condição de exploração e alienação, quando nele estão impressas as marcas do envelhecimento precoce, da fadiga, das cicatrizes do corte de cana, da baixa autoestima, da desnutrição, da tristeza pela infância negada. O corpo produtivo é, pois, o corpo vencido pela exploração capitalista. Por outro lado, numa compreensão não dualista, mas dialética, mostra que sinais de resistência a essa objetivação estão inscritos na existência de um corpo brincante de seus cotidianos, possibilidades para viver o lúdico e as dimensões que a ele se relacionam: o jogo, a festa, a brincadeira, o riso, o encontro, o à toa, o prazer, a preguiça, a imaginação, e o sonho. O corpo brincante é, pois, a materialização de um sujeito criança, que ainda luta pela humanização e busca sentido à sua experiência de infância.
Assim, os registros corporais das crianças da favela indicam que sua condição de desigualdade está marcada pela formação de um corpo oprimido enquanto que a ação de resistência está marcada pela vivência de um corpo brincante.
O corpo oprimido acima é marcado pela situação de submissão e opressão por parte de vários segmentos sociais que colocam essas crianças em diversos lugares socias de desigualdades.
O corpo brincante é o corpo que se recria da condição de opressão e se experiencia em sua liberdade, em sua festa, em seu encantamento, em seu prazer, em seu enigma, em sua possibilidade de encontro com ou outro, de criação e fluidez, de descoberta e desafios, enfim, em sua possibilidade de experiência lúdica.
Finalizando, essa capacidade de transfigurarem-se e explorar o corpo como potencial de experiências novas, desafiadoras e lúdicas, portanto, não necessariamente nasce da resistência ou da carência, mas, mesmo na possibilidade, as crianças vão além do que os adultos planejam e oferecem a elas. Esse aspecto pode ser observado nos dois contextos, o que demarca a dimensão geracional nas culturas infantis no que mostra as crianças como atores e um grupo social com interesses e modos de ação comuns entre elas, interesses esses quase sempre manifestos pela alteridade em relação aos adultos.
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