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Opinião Construtiva | O corpo como experiência lúdica… - por Mário Disnard

 

Do corpo produtivo ao corpo brincante, defende ao se embrenhar no cotidiano das crianças trabalhadoras nos canaviais pernambucanos para buscar perceber se existiria possibilidade para aquelas crianças usurpadas ao direito à infância porque inseridas em longas duras jornadas de trabalho no corte de caba viverem o lúdico.

Assim, fazendo uma dura crítica à sociedade capitalista e ao que ela produz como mazelas à classe trabalhadora, revela que o corpo produtivo é o corpo alienado, objetivado e apropriado pelo capital com vista à sua perpetuação. Nesse sentido, alega que o corpo produtivo das crianças materializa sua condição de exploração e alienação, quando nele estão impressas as marcas do envelhecimento precoce, da fadiga, das cicatrizes do corte de cana, da baixa autoestima, da desnutrição, da tristeza pela infância negada. O corpo produtivo é, pois, o corpo vencido pela exploração capitalista. Por outro lado, numa compreensão não dualista, mas dialética, mostra que sinais de resistência a essa objetivação estão inscritos na existência de um corpo brincante de seus cotidianos, possibilidades para viver o lúdico e as dimensões que a ele se relacionam: o jogo, a festa, a brincadeira, o riso, o encontro, o à toa, o prazer, a preguiça, a imaginação, e o sonho. O corpo brincante é, pois, a materialização de um sujeito criança, que ainda luta pela humanização e busca sentido à sua experiência de infância.

Assim, os registros corporais das crianças da favela indicam que sua condição de desigualdade está marcada pela formação de um corpo oprimido enquanto que a ação de resistência está marcada pela vivência de um corpo brincante.

O corpo oprimido acima é marcado pela situação de submissão e opressão por parte de vários segmentos sociais que colocam essas crianças em diversos lugares socias de desigualdades.

O corpo brincante é o corpo que se recria da condição de opressão e se experiencia em sua liberdade, em sua festa, em seu encantamento, em seu prazer, em seu enigma, em sua possibilidade de encontro com ou outro, de criação e fluidez, de descoberta e desafios, enfim, em sua possibilidade de experiência lúdica.

Finalizando, essa capacidade de transfigurarem-se e explorar o corpo como potencial de experiências novas, desafiadoras e lúdicas, portanto, não necessariamente nasce da resistência ou da carência, mas, mesmo na possibilidade, as crianças vão além do que os adultos planejam e oferecem a elas. Esse aspecto pode ser observado nos dois contextos, o que demarca a dimensão geracional nas culturas infantis no que mostra as crianças como atores e um grupo social com interesses e modos de ação comuns entre elas, interesses esses quase sempre manifestos pela alteridade em relação aos adultos.



Mário Disnard é professor, com graduação em História e Gestão em Recursos Humanos. Possui pós-graduação em Gestão do Capital Intelectual e Coordenação Pedagógica. Foi Articulador da EJA da Prefeitura Municipal de Caruaru. Tem experiência na área de Administração. Foi coordenador do Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos biênio 2014/2016, Foi vice-presidente dos Conselhos Municipais de Assistência Social e Direitos da Criança e do Adolescente de Caruaru. Participou da Construção do Plano Municipal de Educação de Caruaru. Pesquisador em EJA com publicações Nacionais e Internacionais. Em 2020 lançará o livro com a mesma temática do trabalho apresentado em Portugal pela editora Appris.


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