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Desafios do Jornalismo: da desconfiança à esperança - por Jénerson Alves

 

Há alguns anos, era comum ver jornais expostos pelas ruas e bancas, ou entregues a assinantes por garotos em bicicletas. O advento da internet e mudanças na dinâmica social transformaram este cenário. Hoje, as informações saltitam nas telas dos smartphones, oriundas das mais diversas fontes. Com acesso à internet e um aparelho celular, todo mundo pode produzir conteúdo e reportar fatos. Essa revolução tecnológica singular gera um desafio: como o público poderá discernir o joio e o trigo em meio a tantas notícias, textos, áudios e vídeos?


Se, antes, as pessoas sabiam exatamente a quem recorrer, hoje parece que há uma certa desconfiança no reino da comunicação. “Quando eu leio ou assisto a alguma notícia, seja pelas redes sociais ou pela imprensa, sempre fico me perguntando se é verdade mesmo ou se é fake news”, pondera a dona-de-casa Jacira Silva, 56. Ela não está sozinha. Uma pesquisa divulgada em setembro de 2021 revela que o Brasil apresenta um dos maiores índices de desconfiança em relação à imprensa. O estudo sobre jornalismo, mídia e liberdade de expressão foi realizado pelo Instituto Reuters, da Universidade de Oxford, no Brasil, Reino Unido, Estados Unidos e Índia. Segundo o levantamento, 38% dos brasileiros com 55 anos ou mais desconfia das notíicas e somente 18% confiam. No Brasil, o estudo foi realizado em parceria com o Instituto Datafolha e contou com a participação de aproximadamente 8 mil pessoas.




Martinelly ressalta aspecto formador do Jornalismo. Foto: Jénerson Alves

É possível afirmar que imiscuída neste cenário está a mudança na práxis jornalística nas redações. Entre os aspectos mais visíveis no contexto regional, vê-se o ‘mar’ das mídias sociais e a profusão de assessorias de imprensa. Para o jornalista Diego Martinelly, é necessário reacender o ‘faro’ jornalístico. “Hoje as fontes de informação estão mais acessíveis, mas o jornalista precisa desenvolver suas habilidades de pensar sobre os fatos, com reflexões a partir de diversos pontos de vista. Assim, o público terá acesso não apenas a informações soltas, mas vai ter oportunidade de concatenar as ideias e formar sua opinião”, destaca Martinelly, que também é gerente de conteúdo do Grupo Nordeste de Comunicação, o qual compreende a TV Asa Branca, CBN Caruaru, G1 e GE Caruaru e Região.


Martinelly ainda exemplifica que um telejornal precisa ser idealizado de forma que cada edição adquira unidade. Caso contrário, pode se tornar uma mera ‘colcha de retalhos’ com notícias de editorias distintas, mas sem oportunizar ao público os subsídios para uma reflexão crítica.


Dinâmica do mercado

O jornalismo também sentiu o impacto da hipermodernidade. No compasso das transformações, a denominada crise do papel colocou um ponto final em empresas de comunicação. Para se ter uma ideia, os dois semanários impressos que circulavam em Caruaru tiveram suas atividades encerradas em um período de cinco anos. O tradicional Jornal Vanguarda, que foi fundado em 1º de maio de 1932, foi definhando e cessou de ser impresso em 2020, durante a pandemia do novo coronavírus. Antes disso, o Jornal Extra de Pernambuco deixou de circular em julho de 2017, após 16 anos de trajetória. Em gradação menor, emissoras de rádio e televisão também sentiram o baque das modificações mercadológicas.


É aí que o empreendedorismo desponta como uma janela de oportunidade para os profissionais da área. Não raramente, surgem blogs, podcasts, ou mesmo páginas de redes sociais produzidas por jornalistas. Via de regra, os sêniores se reinventam e imergem nas novas plataformas como uma forma de sobrevivência, ao passo que os novos ‘jornas’ possuem uma relação praticamente inata com as ferramentas contemporâneas. “É preciso que os jornalistas mais experientes reconheçam as habilidades dos mais jovens e aprendam com eles; ao mesmo tempo, cabe à juventude aprender e se inspirar nos exemplos daqueles que são mais amadurecidos pela experiência e pelo traquejo jornalístico”, pontua Diego Martinelly.


Se outrora os ‘focas’ (jargão profissional para os jornalistas inexperientes) chegavam às redações com caderno, caneta e um mundo de sonhos, atualmente os recém-diplomados dispõem de uma redação inteira na palma da mão. Através do smartphone, é possível gravar vídeos e editá-los em poucos minutos, bem como realizar transmissões ao vivo, sem falar em redigir textos, fotografar e publicar na internet com poucos cliques. O desafio está em perceber que essa automação, necessariamente, não significa qualidade. O diferencial não está em publicar primeiro, mas em informar melhor.


Staut pontua senso de humanidade dos jornalistas. Foto: Divulgação



Responsabilidade social

Sem dúvida, um dos caminhos para a retomada da confiança da população está no exercício do jornalismo sério e responsável. A complexidade do mundo atual demanda um comprometimento com a qualidade do debate público. Essa preocupação já havia sido apontada pelo filósofo inglês John Stuart Mill, no século XIX, ao reconhecer que doutrinas conflitantes podem albergar verdades parciais que dependem de uma discussão pública eficiente e equilibrada. Essa problemática, já presente na Inglaterra dois séculos atrás, adquire contornos e densidade ainda mais visíveis na contemporaneidade.


A partir da leitura aprofundada sobre a realidade circundante, o jornalista pode e deve desenvolver sua concepção de responsabilidade autoatribuída. Mais do que uma profissão, há no jornalismo uma espécie de sacerdócio, isto é, uma compreensão vocacional notadamente marcada pelo senso pessoal de responsabilidade.


Tal prerrogativa não se aprende por meio de artifícios e técnicas elementares, contudo perpassa um profundo senso de humanidade. Um dos caminhos foi apontado pelo jornalista Lisandro Staut, ex-diretor da Rede Novo Tempo, ao conversar com nossa equipe sobre os desafios de comunicar para regiões diferentes: “Acontece que ao mesmo tempo que somos seres humanos com, não apenas culturas e costumes diferentes, mas, visões de mundo e da vida bastante distintas, somos todos de uma mesma raça, sujeitos a sentimentos e necessidades básicas muito parecidos”, observa. “Uma das necessidades básicas que une boa parte dos seres humanos dos quatro cantos do planeta é a busca por significado para esta vida, ou mesmo a busca por algo que vá além do que vivemos hoje, o que podemos traduzir por ‘esperança’”, conclui.



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