Lendas urbanas são histórias contadas de forma oral, em geral, é apresentada como um fato ocorrido com outras pessoas. Algumas vezes, essas histórias chegam a fazer parte do folclore de um determinado lugar.
E foi através de uma lenda urbana, figura do folclore catendense, que resultou num dos maiores blocos carnavalescos do interior do Estado de Pernambuco.
Encontrei nas anotações do ex-prefeito Renato Buarque de Macedo, registro que nos faz crer, ser sobre a Mulher da Sombrinha:
“A propósito de José Leandro devo referir-me a lenda ou coisa que valha de certa visão que aparecia no povoado, isto é, a aparição de uma mulher de cabelos grandes, vestida de branco que fez muita gente correr de cabelos arrepiados, como aconteceu com o próprio Leandro, que por sinal, depois dessa passagem não era homem para contar história fiada. De muitos outros tenho ouvido esta mesma narrativa”.
Notemos a ausência de uma sombrinha no relato de Macedo, apenas uma mulher de cabelos grandes, vestida de branco. A sombrinha pode ter sido um elemento acrescentado pelos relatos orais repassados de uma geração para outra.
A realidade é que, a Mulher da Sombrinha passou a fazer parte da vida dos catendenses, principalmente dos operários da extinta Usina Catende, quando largavam do turno da meia-noite. De vez em quando, um desses trabalhadores tinha a sorte, ou o azar, de se deparar com a tal mulher de cabelos loiros e com a sombrinha em uma das mãos.
Seduzido e encantado com tamanha beleza, o homem passava a segui-la, até se dar conta que estava em frente ao Cemitério da Sagrada Família, desmaiando ou saindo correndo para casa.
No início do ano de 1983, a loja de móveis Santo Antonio, de propriedade da família de Jorge Benjamin, estava passando por uma reforma e por alguns dias, ficou sem porta, ficando a noite sempre um funcionário de guarda. Logo surgiram as conversas sobre assombrações, entre elas, a Mulher da Sombrinha. De imediato, Jorge que sempre foi um grande folião catendense, fundador de alguns blocos, teve a ideia de que a brincadeira entre os funcionários da loja para o carnaval daquele ano seria a temida lenda.
Fizeram então uma boneca com a cabeça de mamão e uma vela acesa dentro, uma estrutura de madeira em forma de cruz para dar forma ao corpo e usando meiões para fazer os braços. Em um sorteio prévio, fora sorteado Tomires Ramos para carregar a boneca. Por iniciativa de Jorge, uma vez que Tomires era considerado o mais medroso da turma, todos os papéis tinham seu nome.
E foi assim que à meia-noite, ou seja, as 00h do dia 12 de fevereiro de 1983, sábado de carnaval, saiu da Rua Pedro Cássio, próximo ao Colégio Mendo Sampaio, o primeiro desfile da Mulher da Sombrinha, com seus fundadores e um grupo de trinta pessoas, em tom de brincadeira, sem pretensão de um dia tornar-se algo grandioso.
A partir do ano seguinte, tendo como secretário de cultura o saudoso Marcos Catende, o governo municipal, tendo como prefeito à época, Odorico Freire, tomou para si a responsabilidade sobre o bloco, o que resultou no afastamento dos seus fundadores da organização. Posteriormente, a boneca passou a sair de dentro do cemitério.
Atualmente, ela sai da Rua Joaquim de Lima, conhecida como Rua do SAAE, no sábado antecedente ao carnaval, percorrendo as principais ruas da cidade, acompanhada por orquestras de frevo, trios elétricos, ao som de hino próprio, composto por Marcos Catende.
Como toda boneca gigante que se preze, a Mulher da Sombrinha também tem seu parceiro para participar da folia, o boneco do Operário.
Apesar de não possuir uma sede, estatuto ou registro em cartório, é hoje, a maior atração turística do município, conseguindo atrair milhares de pessoas. Além de ser reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado de Pernambuco, através do Projeto apresentado pelo então Deputado Estadual Henrique Queiroz e sancionado pelo governador Eduardo Campos, através da Lei Estadual nº 13.840 de 14 de agosto de 2009.
Assim como em 2021, este ano o bloco não desfilará devido à pandemia do Covid-19.
Eduardo Menezes é escritor catendense
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