Durante a minha adolescência, ocorrida no outro milênio, ouvi falar de um livro clássico escrito por um autor espanhol, chamado Miguel de Cervantes, sobre a vida de um imaginário cavaleiro andante, denominado Dom Quixote de La Mancha. O primeiro contato que tive com o romance foi uma adaptação feita por Monteiro Lobato, que fez uma releitura para crianças, da referida obra.
Aquilo me fascinou, ao notar o idealismo do fidalgo que a si mesmo apelidou de Quixote, para começar a buscar grandes aventuras, procurando corrigir as injustiças do mundo. Deixa a parentela e sai no seu cavalo Rocinante, pelas plagas da velha Espanha de El Cid, em procura de proteger as pessoas oprimidas ou desventuradas.
Eu ria muito ao saber do amor do fidalgo, magro e enxuto de carnes, que aos cinquenta anos de idade, fora tomado pelo amor obsessivo por livros de cavalaria. Foi uma paixão tão avassaladora, que chegou a vender pedaços da terra de sua propriedade, para comprar as novidades do tema, aumentando, portanto, a sua já opulenta biblioteca. Me lembro que ri sozinho por semanas com as trapalhadas do herói, quando chegou numa estalagem e se dirigiu a duas prostitutas, como se elas fossem representantes de uma alta aristocracia. As moças ficaram perdidas em sua retórica empolada e passaram zombar do visitante, que ficou visivelmente irritado.
Depois dessas reflexões pude conhecer Ariano Suassuna, assistindo duas brilhantes palestras dele em Natal e o grande mestre paraibano, sempre que surgia o contexto, falava na obra imortal de um autor espanhol que ao morar por dois anos em Lisboa, tomou-se de amor pela musicalidade da língua portuguesa, me refiro a Miguel de Cervantes Saavedra.
Hoje aos 22 de abril de 2023, o mundo comemora 407 anos do aniversário de sua morte física, ocorrida em Madri, no distante ano de1616. Reativei o meu interesse por este gênio da literatura universal e finalmente consegui comprar o livro completo, com dos dois volumes, numa edição especial da Editora Martin Claret, prefaciada pela professora Célia Navarro Fores, que trabalha na Universidade de Aracaju.
A partir de agora vou me deliciar no universo de Cervantes e completar a leitura do calhamaço de mais de mil páginas, o que pretendo concluir em poucas semanas. Simultaneamente também estou procurando vídeos e documentários sobre a jornada de Cervantes, vivida nesse mundo velho repleto de ilusões e de falsidades. Talvez o sucesso atemporal do personagem Dom Quixote, seja originário das lutas vividas por este herói, da literatura espanhola. O meu reconhecimento singelo a um homem que sem maiores pretensões, através de sua vasta produção, fez simplesmente o idioma de sua pátria, ficar conhecido com “a língua de Cervantes”.
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