A oftalmologista Regina Cele Silveira Seixas, uma das maiores especialistas de glaucoma, membro titular da Sigma Xi - The Scientific Research Honor Society, uma das mais respeitadas sociedades científicas do mundo, apresentou um estudo recente publicado na revista científica Frontiers in Psychology, comprovando que o glaucoma pode aumentar os índices de ansiedade e depressão, destacando a necessidade de um cuidado oftalmológico mais humanizado.
“Nosso estudo analisou 210 pacientes em quatro centros especializados, identificando uma alta prevalência de depressão (26,19%) e ansiedade (25,71%) entre os portadores de glaucoma. Os sintomas ansiosos foram mais comuns nos estágios iniciais da doença, enquanto a depressão foi mais frequente nos casos avançados. Os resultados sugerem a necessidade de um tratamento mais abrangente, que inclua suporte emocional e psicológico aos pacientes. Esse estudo reforça a importância da inovação no tratamento do glaucoma e da atenção à qualidade de vida dos pacientes”, explica Dra Regina Cele.
Dra. Regina, o que motivou a realização desse estudo sobre a relação entre glaucoma, ansiedade e depressão?
Dra. Regina: O glaucoma é uma doença crônica que impacta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, indo além da perda visual. Observamos que muitos pacientes apresentam sintomas de ansiedade e depressão, mas essa relação ainda não estava totalmente esclarecida. Nosso estudo buscou entender melhor essa conexão e trazer mais evidências científicas para apoiar um cuidado mais abrangente.
Como o estudo foi conduzido e quais foram os principais achados?
Dra. Regina: Realizamos um estudo transversal em quatro centros especializados em glaucoma, localizados em São Paulo e Curitiba. Avaliamos 210 pacientes diagnosticados, divididos conforme a gravidade da doença. Utilizamos os questionários amplamente reconhecidos para avaliação de depressão e ansiedade. Os resultados mostraram que 26,19% dos pacientes apresentavam depressão e 25,71% tinham ansiedade, índices superiores à média nacional.
A ansiedade e a depressão afetam todos os pacientes da mesma forma?
Dra. Regina: Não. Observamos que pacientes em estágios iniciais do glaucoma tinham níveis mais altos de ansiedade, possivelmente por conta da incerteza sobre a progressão da doença. Já os sintomas depressivos eram mais comuns em estágios avançados, quando as limitações diárias se tornam mais evidentes e impactam a qualidade de vida.
O que esses transtornos podem representar para o tratamento do glaucoma?
Dra. Regina: A baixa adesão ao tratamento é um dos maiores desafios no controle do glaucoma. Comorbidades como depressão e ansiedade podem piorar esse quadro, pois o paciente pode negligenciar o uso correto dos colírios ou até evitar consultas de acompanhamento. Portanto, o suporte emocional e psicológico é essencial para garantir um tratamento eficaz.
Quais recomendações para melhorar o cuidado desses pacientes?
Dra. Regina: O ideal é uma abordagem multidisciplinar, com oftalmologistas trabalhando em conjunto com psicólogos e psiquiatras quando necessário. O suporte emocional deve ser parte do tratamento para ajudar os pacientes a lidarem melhor com o diagnóstico e a adesão ao tratamento. Além disso, campanhas de conscientização podem ajudar a reduzir o impacto psicológico da doença.
Para encerrar, qual mensagem a senhora deixaria para quem foi diagnosticado com glaucoma?
Dra. Regina: O diagnóstico de glaucoma pode ser assustador, mas com o tratamento adequado e acompanhamento regular, é possível manter a qualidade de vida. É fundamental seguir as orientações médicas, cuidar da saúde mental e buscar apoio sempre que necessário. A informação e o suporte correto fazem toda a diferença.
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