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Via Sacra x Patrimônio Artístico Religioso – por Eduardo Menezes



 


A religiosidade e a sociedade sempre caminharam juntas. Assim, também, foi em Catende, quando houve a realização de uma missa, confirmando esse fato, na fundação de um povoado em 1874.


Naquele vilarejo, em 1879, foi inaugurada a primeira capela da localidade, sob o padroado de Sant'Ana. Essa capela foi demolida no início da década de 1910, quando uma nova capela foi construída num alto, em terras do engenho Bela Aurora, hoje Praça Coração Eucarístico.

Com o passar dos anos, já na condição de igreja Matriz, porém ainda conservando o pequeno templo, não mais comportava a quantidade de fiéis, além de precisar de vários melhoramentos.

O proprietário da Usina Catende, o Sr. Antonio Ferreira da Costa Azevedo, a pedido do pároco Pe. Abílio Galvão, logo tratou de reformar e ampliar a matriz. Ofertando ao povo catendense uma bela edificação interna e externa, três altares de mármore construídos pelo escultor pernambucano Bibiano Silva e as pinturas pelo pintor Baltazar da Câmara, ambos artistas reconhecidos nacionalmente.

Com a chegada dos padres dehonianos holandeses, João e André, sob o pensamento do minimalismo, o Pe. André Coopman iniciou a campanha de uma nova e moderna igreja. Assim, todo aquele patrimônio histórico, artístico e arquitetônico, foi destruído. Perda irreparável para Catende, pouca coisa restando da antiga igreja, além da torre.

Em contrapartida, diante do desaparecimento do nosso patrimônio (patrimônio de todos os catendenses), o Pe. André entregou outra herança para a comunidade, a nova Via Sacra, uma belíssima obra de arte, produzida no período de outubro de 1972 a maio de 1973, em madeira de mogno, pelo artista plástico pernambucano Jether Peixoto.

As 14 talhas medem 70 X 170cm. É considerada a maior obra entalhada de Pernambuco e, com certeza, uma das maiores do Brasil. Motivo pelo qual, os catendenses deveriam ter o mesmo sentimento de pertença e orgulho que os mineiros têm pela obra de Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.

O ceramista, entalhador e pintor Jether Peixoto nasceu no município pernambucano de Canhotinho, no dia 4 de janeiro de 1922, foi casado com a catendense Débora Pereira da Costa, com quem teve 14 filhos.

Discípulo do Mestre Vitalino, Jether, quando ainda morava em Catende em 1948, Vitalino foi convidado pelo artista plástico Augusto Rodrigues, fundador da Escolinha de Artes do Brasil e responsável pela divulgação do trabalho do pernambucano na exposição dos bonecos de Vitalino, no Rio de Janeiro, no ano anterior, afim de ir para Minas Gerais. Na recusa do convite, Jether foi indicado para trabalhar e morar no Complexo Educacional da Fazenda Rosário, em Ibirité, MG. Depois Jether foi trabalhar na Bahia, retornando à Minas Gerais no final da década de 1960, onde ensinava cerâmica, entalhe e cestaria.

Convidado pelo Pe. André, Jether voltou à Catende com o intuito de produzir a Via Sacra para a Matriz de Sant'Ana recém-inaugurada.

Jether faleceu no Recife, aos 79 anos, no dia 16 de junho de 2001.

Como citamos, anteriormente, as obras do Aleijadinho, são consideradas patrimônio cultural-artístico, tendo em vista a sua originalidade.

Devemos também ter esse mesmo cuidado com a nossa Via Sacra. Ela representa um patrimônio cultural de elevado valor artístico ligando várias gerações. Portanto, precisa ser preservado.

Conhecer é o primeiro passo para preservar, visto que, é a comunidade a principal guardiã do seu patrimônio, devendo ficar vigilante a situações que ameacem sua integridade.

O artigo 216 da Constituição Federal assegura que, constituem patrimônio cultural os bens materiais e imateriais, referentes à identidade e à memória de um povo, entre eles: obras, objetos, documentos, edificações e espaços destinados às manifestações artístico-culturais.

Se não preservarmos nosso patrimônio histórico/artístico/cultural/religioso, ele também tenderá a desaparecer. Assim como já houve no passado. Fato que ocorreu com os altares de Bibiano Silva, as pinturas de Baltazar da Câmara, casarões, as instalações da antiga Usina Catende e prédios que foram destruídos ao longo do tempo, apagando parte da nossa história.

Diante disso, levanto a bandeira para que seja feito o pedido de tombamento, junto aos órgãos competentes (Secretaria de Cultura do Estado) da Via Sacra referente à Igreja Matriz de Sant'Ana, por representar uma obra única e de alto valor artístico, visando a preservação para a posteridade, impedindo que venha a ser destruída ou descaracterizada, ou até mesmo sua transferência para fora da localidade.





Eduardo Menezes é historiador, membro da Academia Palmarense de Letras.

Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    Respostas
    1. Parabéns nobre historiador!
      Boa matéria para o resgate cultural de nosso povo.

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