A religiosidade e a sociedade sempre caminharam juntas. Assim,
também, foi em Catende, quando houve a realização de uma missa,
confirmando esse fato, na fundação de um povoado em 1874.
Naquele
vilarejo, em 1879, foi inaugurada a primeira capela da localidade,
sob o padroado de Sant'Ana. Essa capela foi demolida no início da
década de 1910, quando uma nova capela foi construída num alto, em
terras do engenho Bela Aurora, hoje Praça Coração Eucarístico.
Com o passar dos
anos, já na condição de igreja Matriz, porém ainda conservando o
pequeno templo, não mais comportava a quantidade de fiéis, além de
precisar de vários melhoramentos.
O proprietário da
Usina Catende, o Sr. Antonio Ferreira da Costa Azevedo, a pedido do
pároco Pe. Abílio Galvão, logo tratou de reformar e ampliar a
matriz. Ofertando ao povo catendense uma bela edificação interna e
externa, três altares de mármore construídos pelo escultor
pernambucano Bibiano Silva e as pinturas pelo pintor Baltazar da
Câmara, ambos artistas reconhecidos nacionalmente.
Com a chegada dos
padres dehonianos holandeses, João e André, sob o pensamento do
minimalismo, o Pe. André Coopman iniciou a campanha de uma nova e
moderna igreja. Assim, todo aquele patrimônio histórico, artístico
e arquitetônico, foi destruído. Perda irreparável para Catende,
pouca coisa restando da antiga igreja, além da torre.
Em contrapartida,
diante do desaparecimento do nosso patrimônio (patrimônio de todos
os catendenses), o Pe. André entregou outra herança para a
comunidade, a nova Via Sacra, uma belíssima obra de arte, produzida
no período de outubro de 1972 a maio de 1973, em madeira de mogno,
pelo artista plástico pernambucano Jether Peixoto.
As 14 talhas medem
70 X 170cm. É considerada a maior obra entalhada de Pernambuco e,
com certeza, uma das maiores do Brasil. Motivo pelo qual, os
catendenses deveriam ter o mesmo sentimento de pertença e orgulho
que os mineiros têm pela obra de Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho.
O ceramista,
entalhador e pintor Jether Peixoto nasceu no município pernambucano
de Canhotinho, no dia 4 de janeiro de 1922, foi casado com a
catendense Débora Pereira da Costa, com quem teve 14 filhos.
Discípulo do Mestre
Vitalino, Jether, quando ainda morava em Catende em 1948, Vitalino
foi convidado pelo artista plástico Augusto Rodrigues, fundador da
Escolinha de Artes do Brasil e responsável pela divulgação do
trabalho do pernambucano na exposição dos bonecos de Vitalino, no
Rio de Janeiro, no ano anterior, afim de ir para Minas Gerais. Na
recusa do convite, Jether foi indicado para trabalhar e morar no
Complexo Educacional da Fazenda Rosário, em Ibirité, MG. Depois
Jether foi trabalhar na Bahia, retornando à Minas Gerais no final da
década de 1960, onde ensinava cerâmica, entalhe e cestaria.
Convidado pelo Pe.
André, Jether voltou à Catende com o intuito de produzir a Via
Sacra para a Matriz de Sant'Ana recém-inaugurada.
Jether faleceu no
Recife, aos 79 anos, no dia 16 de junho de 2001.
Como citamos,
anteriormente, as obras do Aleijadinho, são consideradas patrimônio
cultural-artístico, tendo em vista a sua originalidade.
Devemos também ter
esse mesmo cuidado com a nossa Via Sacra. Ela representa um
patrimônio cultural de elevado valor artístico ligando várias
gerações. Portanto, precisa ser preservado.
Conhecer é o
primeiro passo para preservar, visto que, é a comunidade a principal
guardiã do seu patrimônio, devendo ficar vigilante a situações
que ameacem sua integridade.
O artigo 216 da
Constituição Federal assegura que, constituem patrimônio cultural
os bens materiais e imateriais, referentes à identidade e à memória
de um povo, entre eles: obras, objetos, documentos, edificações e
espaços destinados às manifestações artístico-culturais.
Se não preservarmos
nosso patrimônio histórico/artístico/cultural/religioso, ele
também tenderá a desaparecer. Assim como já houve no passado. Fato
que ocorreu com os altares de Bibiano Silva, as pinturas de Baltazar
da Câmara, casarões, as instalações da antiga Usina Catende e
prédios que foram destruídos ao longo do tempo, apagando parte da
nossa história.
Diante disso, levanto a bandeira para que seja feito o pedido de tombamento, junto aos órgãos competentes (Secretaria de Cultura do Estado) da Via Sacra referente à Igreja Matriz de Sant'Ana, por representar uma obra única e de alto valor artístico, visando a preservação para a posteridade, impedindo que venha a ser destruída ou descaracterizada, ou até mesmo sua transferência para fora da localidade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirParabéns nobre historiador!
ExcluirBoa matéria para o resgate cultural de nosso povo.