A madrugada resfriava o cobertor de fibras desgastadas e o orvalho descia sobre a única e desbotada janela daquele lugar esguio, vizinho a um antigo riacho que se tornara despejo de rejeitos humanos de odor cinzento e estimuladores de náuseas. Aquele ambiente não se casava ao brilhante espreguiçamento dos lábios de Luciana, tal movimento deixava seus dentes descompassados expostos, ao passo que exalavam sentimentos de gratidão e humildade. Contrariando a lógica do enfadonho destino de prisões frias, a moça provocava uma epidemia de alegria por onde passava; as suas consternações não detinham seus sonhos. A dispensa vazia ampliava o tom de sua voz cantarolando afinadamente um som de súplica e louvor. As dores da crise econômica lançaram-na ao desemprego, mas jamais lhe tirara o gozo de erguer os olhos ao azul-celeste e contemplar o derramamento das chuvas de esperança que a fazia aguardar firmemente os bons ventos que acalentariam sua face; embora o horizonte estivesse embaçado, aguard...